Livro – OS
MENSAGEIROS – Psicografia de Francisco Cândido Xavier – Espírito André
Luiz
Digitado por
–Valeria Guida
"Não se passaram
muitos minutos e estávamos ao lado do agonizante, cuja situação preocupava
o clínico espiritual.
Era um cavalheiro de
sessenta anos presumíveis, que a leucemia aniquilava morosamente.
-
Há
muitos dias se encontra em coma – explicou o facultativo -, mas temos
necessidade de mais forte auxílio magnético, para facilitar o
desprendimento.
No aposento, além de
duas senhoras desencarnadas – a mãe do agonizante e uma parente próxima -,
viam-se familiares encarnados, dando mostras de grande aflição.
Nosso orientador
examinou o enfermo detidamente e sentenciou:
-
Nada
resta senão a necessidade de concurso para o desligamento final.
Aniceto, a seguir,
recomendou observássemos o moribundo com atenção.
Concentrando todas
as minhas possibilidades, fixei o enfermo preste a desencarnar. Notei, com
minúcias, que a alma se retirava lentamente através de pontos orgânicos
insulados. Assombrado, verifiquei que, bem no centro do crânio, havia um
foco de luz mortiça, candelabro aceso às ondulações brandas do vento.
Enchia toda a região encefálica, despertando-me profunda admiração.
-
A luz
que você observa – disse o instrutor amigo – é a mente. Para cuja
definição essencial não temos, por agora, conceituação humana.
Notando minha
estranheza, Aniceto colocou-me a destra na fronte, transmitindo-me
vigoroso influxo magnético, e acentuou:
-
Repare
a máquina divina do homem, o tabernáculo sagrado que o Senhor permitiu se
formasse na Terra para sublime habitação temporária do espírito. Agora,
André, não está você diante duma demonstração anatômica da ciência
terrestre, examinando carne morta e músculos enrijecidos. Observe agora! O
olho mortal não poderá contemplar o que se encontra à sua vista neste
instante. O microscópio é ainda pobre, não obstante representar uma nobre
conquista para a limitada visão humana.
A cooperação
magnética do querido mentor modificara a cena e fui compelido a concentrar
todas as minhas energias, a fim de não inutilizar a observação pelo golpe
do espanto.
A luz mental, embora
fosca, tornara-se mais nítida e o corpo do moribundo agigantou-se,
oferecendo-me espetáculo surpreendente aos olhos ansiosos. Parecia-me o
corpo, agora, maravilhosa usina nos mais íntimos detalhes. O quadro
científico era simplesmente estupefativo. Identificava, em grandes
proporções, os nove sistemas de órgãos da máquina humana; o arcabouço
ósseo, a musculatura, a circulação sanguínea, o aparelho de purificação do
sangue consubstanciado nos pulmões e nos rins, o sistema linfático, o
maquinismo digestivo, o sistema nervoso, as glândulas hormonais e os
órgãos dos sentidos. Tal revelação histológica era diferente de tudo que
eu poderia sonhar nos meus trabalhos de medicina. A circulação do sangue
semelhava-se a movimento de canais vitalizadores daquele pequeno mundo de
ossos, carne, água e resíduos. Milhões de organismos microscópicos iam e
vinham na corrente empobrecida de glóbulos vermelhos. Presenciava a
passagem de formas esquisitas, à maneira de minúsculas embarcações
carregadas de bactérias mortíferas. Elementos maiores da flora microbiana
transformavam-se em pequeninos barcos hospedando feras minúsculas, às
centenas. Invadiam todos os núcleos organizados. Os órgãos, como os
pulmões, o fígado e os rins, estavam sendo assaltados irremediavelmente,
por incalculável quantidade de sabotadores infinitesimais. E à medida que
se consolidavam os micróbios invasores, em determinadas regiões celulares,
alguma coisa se destacava, lentamente, da zona atacada, como se um molde
sempre novo fosse expulso da forma gasta e envelhecida, reconhecendo eu,
desse modo, que a desencarnação se operava através de processo parcial,
facultando-me ilações preciosas. Reparei que algumas glândulas faziam
desesperado esforço para enviar aos centros invadidos determinadas porções
de hormônios, que eram incontinenti absorvidos pelos elementos letais. O
plasma sanguíneo figurava-se líquido estranho e gangrenoso.
Pela excessiva
movimentação da onda mental, observei que o moribundo tentava readquirir a
direção dos fenômenos orgânicos, mas em vão. Todos os complexos celulares
atritavam entre si e as bactérias pareciam gozar o direito de
multiplicação crescente e festiva.
-
Está
vendo a máquina divina, formada pelo molde espiritual preexistente? –
perguntou Aniceto, compreendendo-me a profunda admiração. O corpo do homem
encarnado é um tabernáculo e uma bênção. Nesta hecatombe angustiosa de uma
existência, pode você reparar que todos os movimentos do corpo estão
subordinados à administração da mente. O organismo vivo, André, representa
uma conquista laboriosa da Humanidade terrestre, no quadro de concessões
do Eterno Pai. Pode você, agora, identificar os movimentos da matéria
viva. Cada órgão é um departamento autônomo na esfera celular, subordinado
ao pensamento do homem. Cada glândula é um centro de serviços ativos.há
muita afinidade entre o corpo físico e a máquina moderna. São ambos
impulsionados pela carga de combustível, com a diferença de que no homem a
combustão química obedece ao senso espiritual que dirige a vida
organizada. É na mente que temos o governo dessa usina maravilhosa. Não
possuímos, aí, tão somente o caráter, a razão, a memória, a direção, o
equilíbrio, o entendimento; mas, também, o controle de todos os fenômenos
da expressão corpórea. Na sede mental e, conseqüentemente, no cérebro,
temos todos os registros de distribuição dos princípios vitais aos núcleos
celulares, inclusive a água e o açúcar. Os centros metabólicos são grandes
oficinas de trabalho incessante. A mente humana, ainda que indefinível
pela conceituação científica limitada, na Terra, é o centro de toda
manifestação vital no planeta. Cada órgão, cada glândula, meu amigo,
integra o quadro de serviço da máquina sublime, construída no molde sutil
do corpo espiritual preexistente e, por isso mesmo, chegará o tempo em que
a ciência reconhecerá qualquer abuso do homem como ofensa causada a si
mesmo. A usina humana é repositória de forças elétricas de alto teor
construtivo ou destrutivo. Cada célula é minúsculo motor, trabalhando ao
impulso mental.
Aniceto calou-se por
momentos, e, enquanto eu via, aterrado, os mais estranhos fenômenos
microbianos no corpo do moribundo, volveu ele à palavra educativa:
-
Vemos
aqui um irmão no momento da retirada. Repare a incapacidade dele para
governar as células em conflito. A corrente sanguínea transformou-se em
veículo de invasores mortíferos, que não encontraram qualquer fortificação
na defensiva. Observe e identificará milhões de unidades da tuberculose,
da lepra, da difteria, do câncer, que até agora estavam contidos nos
porões da atividade fisiológica, pela defesa organizada, e que se
multiplicam assustadoramente, de par com outros micróbios tão prolíferos
quão terríveis. A nutrição foi interrompida. Não há possibilidade de novos
suprimentos hormonais. O agonizante retrai-se aos poucos e ainda não
abandonou totalmente a carne, por falta de educação mental. Vê-se pelo
excesso de intemperança das células, sobre as quais não exerce nem mesmo
um controle parcial,que este homem viveu bem distante da disciplina de si
mesmo. Seus elementos fisiológicos são demasiadamente impulsivos,
atendendo muito mais ao instinto que ao movimento da razão concentrada. A
falar verdade, este nosso amigo não se está desencarnando, está sendo
expulso da divina máquina, onde, pelo que vemos, não parece ter prezado
bastante os sublimes dons de Deus."